sábado, 29 de dezembro de 2007

Ano Novo de um dia


Relembrando o último dia de todos os meus últimos anos, vêm junto os fogos no céu, o abraço das pessoas e a comida farta. É muita coisa! Realmente é uma data que todos esperam. Com a esperança que move o estado passageiro, o tempo também é um companheiro que ás vezes não percebemos muito bem.


O tempo anda conosco na hora da ceia, entre os abraços e no brilho do olhos ao ver um céu colorido. Na ceia me parece comendo junto, pendurado na parede. Nos abraços, está no óculos do vô, na sabedoria do pai, na namorada do filho e na novidade do bebê. E o tal do tempo, que impõe a nossa finitude , até show pra nós ele dá! Afinal, se o céu colorido fosse para sempre, show não seria mais.

E o tempo que faz a festa chegar, traz consigo uma dor escondida, um vilão que deixou de entrar no espetáculo dos olhos, mas que ainda fica na coxia... Sinto por vezes, como se os homens remediassem essa dor . Divide-se o tempo em capítulos para que se multiplique a vida, as festas e as esperanças. Achou-se 365 dias controlados pela volta do mundo para que o sentimento aprenda que muitos anos deveras vivemos. Que por uma vez estamos chegando mais perto do sempre e esquecendo que o mundo só está fazendo 2 bilhões de voltas no Sol.

De volta em volta, é difícil para muitos ter o seu tamanho como um grão de areia no vento de uma praia de pensamentos. A mortalidade é uma certeza dura. Não poderemos ler todos os livros, andar todas as estradas, ser mais do que um.....que passa. Como seria se houvesse ar fresco no espaço e asas para levantar vôo? Nos perderíamos no firmamento atrás de outros mundos, caçando uns cometas, descobrindo um lugar onde o tempo passe não tão rápido. Ah, acho que ia um povo hein!! Com certeza, os mesmos que escalam o everest! E quando chegam lá em cima....descem e continuam a querer trepar em alguma coisa mais difícil de subir.

E sendo assim, o tempo acaba sendo um inimigo companheiro que sacode e da impulso pra qualquer um que vai morrer um dia. Perdendo ou ganhando, corremos contra ele. E dividido é claro.

Já pensou se um ano demorasse para acabar o equivalente a cinco? Júpiter quivale a 9. Pessoas viveriam lá se tivessem água, arroz e feijão? Só se fosse com 9 reveillons por ano!Eu também, nesse próximo, estou com esperança renovada para o ano que vem. Espero ter bons sonhos se realizando e estar perto das pessoas que gosto. Vejo no ano novo de hoje, somente um feriado alegre com direito a fogos no céu. Muitas pessoas fazem promessas, jogam rosas no mar, acendem velas e pedem melhoras. E assim que pedem, dormem. E levantam dia seguinte. Levantam as mesmas, já criando o ritual de otimismo para os próximos finais. Não traçam objetivos. Eu que por muitas vezes não traçava, comecei com o tempo, no colorido dos fogos no céu.

Por mais que os anos passem e as guerras fiquem, soldados de hoje virarão o ano no campo de batalha. Pedirão por um ano melhor. Rezarão. Se abraçarão desejando o mesmo. E no dia seguinte, levantarão para matar seus adversários na casa deles.

Deixando de lembrar o último dia e recordando todos os outros, quem hoje vive e quem sobrevive os anos que passam? Olhando em volta, de volta em volta, na mesma volta....me pergunto se existirão mudanças com as esperanças. Chega o tempo e sussurra que a esperança vem do coração, agora a mudança não. Essa nem dos céus costuma a cair.

Mas como é final de ano e tenho esperanças, um feliz ano novo de muitas mudanças!

Acaba o ano e acaba um livro também. Acabei Mensagem de Fernando Pessoa e vou deixar um trecho....

Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra e sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter
Felizes, nós? Ah talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou de pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.

F.P.

8 comentários:

Anônimo disse...

A fatalidade do último dia diria Pessoa: É sempre um fim.
Boa escolha do Patrono dos poetas portugueses. Mas meditar a passagem de um ano a outro vai muito além da idéia imposta cultural de mudança de ciclo. As impressões a esse respeito é um mito que o deus Cronos nos impõe com a sutileza de um calendária de ações repetidas e agendadas, mas o minuto não para o tempo não simplesmente passa, ele está... Quem fica é na verdade quem vai, quem morre. Esse fica eternamente presente. Adeus ano velho, feliz permanência...Na lembrança.
Tenho dito!

Cinéfilo disse...

Matamos o tempo e o tempo nos enterra, como diria Machado. Seu texto lembrou-me um autor norte-americano, Richard Brautigan, ídolo dos hippies e vítima dos beatnicks.
Brautigan tem essa visão um tanto esperançosa sobre ciclos temporais.
Gostei do seu texto.

Pessoa eu acho chato, mas reconheço seu talento e sua contribuição.

Bom 2008.

Diego Galluzzi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diego Galluzzi disse...

Bruno, concordo em parte com sua colocação. Temos dois tipos de interpretações.....

Creio que podemos passar e o tempo ficar. Mas é apenas um ponto de vista. Afinal, quando vc esta dentro de um elevador , é o elevador que sobe ou o prédio que desce?

Talvez o mundo (incluindo o tempo) seja tão diverso, que precisamos as vezes mais que dois olhos....

A questão toda gira em torno de nosso referencial...

Jaciene disse...

Nossa parando pra pensar o tempo passa muito rapido msm,nem em 1000 anos daria pra faze tudo que agente sonha...


obs:casamento ta muito dificil ,imagine mantendo o feminismo então hahahahahha
valew bjus até+
Um feliz Ano novo pra vc!!!

Climão Tahiti disse...

Na verdade, se o ano durasse equivalente a 5, ainda assim duraria apenas um.

A percepção que temos do passar dos anos é arbitrária e considera coisas que destruímos, como as estações do ano e climas definidos. =/

Espero que o ano que vem seja melhor, mas algo me diz que não. =/

Vinícius Rodovalho disse...

Até que enfim encontrei alguém que, como eu, tem esperanças. Eu acredito que por mais ruim que pareça, é possível melhorar. :)

Você disse que às vezes não percebemos o tempo. Eu já vivi momentos, inclusive, que o vi parar. Fim de ano. Não parece que ele parou? Nós esperamos o próximo ano chegar sem nem nos darmos conta de que o tempo está passando... é estranho.

E somente para ressaltar algo já dito por você, as coisas efêmeras são sempre mais estimadas. Essa é a notoriedade dos espetáculos pirotecnicos, do desabrochar de uma flor, do pôr-do-sol, da virada de ano...

Como quero preservar minha estabilidade mental e não ficar louco, melhor parar de falar sobre o tempo. Rs.

Feliz 2008.

Anônimo disse...

como diria o ira, "o tempo é uma ilusão"